quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A próxima vítima-planeta sustentável

Como salvar o atum-azul

Uma nova técnica, que permite sua reprodução em cativeiro, pode garantir a sobrevivência de uma espécie ameaçada pela globalização do sushi e do sashimi.

O atum-azul é um peixe magnífico. Pode chegar a 4 metros de comprimento, pesar 700 quilos, nadar à velocidade de 70 quilômetros por hora e viver quarenta anos. Sua carne vermelha, macia e saborosa, fez dele o pescado mais apreciado da culinária japonesa. A dúvida é se o atum-azul sobreviverá à globalização do sushi e do sashimi. Estima-se que a pesca predatória tenha reduzido o estoque desse peixe a somente 10% do existente há cinco décadas. Nesse ritmo, segundo alguns cálculos, o atum-azul pode estar extinto em apenas cinco anos. É quase certo que, quando for atualizada em março, a Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção inclua o atum-azul na lista das espécies ameaçadas. O efeito prático dessa medida, que tem o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia, seria a imposição de uma moratória de dois anos na pesca. Nada disso garante a sobrevivência do atum-azul.

Entre a captura e a venda, o comércio de atum-azul movimenta um volume impressionante de 1 bilhão de dólares por ano. Só existe uma forma reconhecida de preservar uma espécie marítima e, ao mesmo tempo, manter o mercado abastecido: sua criação em cativeiro.Foi o que salvou o salmão. Hoje, dois terços do consumo mundial saem de fazendas aquáticas, reduzindo a pressão sobre o estoque de salmão na natureza. O que impediu até agora que o mesmo fosse feito com o atum-azul foi seu comportamento, muito mais complexo que o de outras espécies criadas em fazendas. Para começar, ele vive em migração permanente. Ao contrário da maioria dos peixes, o atum-azul precisa nadar constantemente (inclusive quando está dormindo) para respirar pelas guelras. Estima-se que cada cardume viaje 10 000 quilômetros por ano. O peixe também é exigente com a alimentação. Não aceita ração e só come alimentos vivos, como sardinha, e em grande quantidade. São 20 quilos de peixes menores para cada quilo de seu próprio peso. Em comparação, o salmão come um décimo dessa proporção.

Os cientista japoneses da universidade de kinki, estão ajudando a criar uma técnica para reproduzir o atum-azul em fazendas. A técnica para induzir peixes adultos a se reproduzir por meio de tratamento hormonal também foi desenvolvida pelos japoneses de Kinki. O primeiro resultado experimental, obtido em março, foi um sucesso: recolheram-se 50 milhões de ovos. Se cada um deles resultasse em um peixe adulto, haveria o suficiente para suprir a demanda mundial por onze anos. A segunda desova está prevista para janeiro. Desta vez, os alevinos serão criados nos tanques com simulação de uma migração. Quando estiverem próximos à fase adulta, eles serão levados para tanques-rede nos oceanos até a hora do abate. A expectativa da empresa é já dispor de 250 000 peixes em 2015 – volume equivalente a toda a produção da Austrália no ano passado.Se der certo, pode ser a salvação desse animal, cujas rotas de migração no Mar Mediterrâneo (seu principal habitat) e nos oceanos Pacífico e Atlântico são bem conhecidas pelos pescadores. Como os cardumes são localizados com a ajuda de satélites, aviões e aparelhos de sonar, o atum-azul não tem chance de escapar de seus predadores humanos. De cada 10 quilos pescados, 8 vão para o Japão. No Brasil, contam-se nos dedos os restaurantes com a iguaria no cardápio. Aqui, são utilizadas outras quatro espécies de atum: albacora-bandolim, atum-branco, atum-amarelo e albacorinha. Por não viverem em águas frias como o atum-azul, essas espécies não têm o alto teor de gordura que dá sabor ao peixe. A prova mais clara dessa diferença é o preço: o atum-branco, mais comum no Brasil, custa menos de 10 reais o quilo.

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